Meditação é uma declaração de liberdade
Eu tento me sentar em meditação para ser melhor em ser o que sou, para ser mais natural e mais livre. Essa é a resposta que muitas vezes recebo das pessoas que encontro, quando lhes pergunto, por que meditam? O ponto de partida é que eu quero ser melhor em ser eu mesmo, o eu mais livre e natural. A liberdade é possível, mas o que acontece mais à frente pode ser algo completamente diferente e, por isso, precisamos fazer tudo da maneira correta.
Durante um dia normal, há milhares de momentos, nos quais somos martelados por sensações, assombrados por necessidades e desejos, pressionados por obrigações, estressados por exigências. Temos que ser o nosso melhor. Temos que ser relaxados, calmos, tranquilos, eficientes e criativos. Pode ser bem cansativo corresponder a essas demandas. É por isso que a ideia de um santuário interior é sedutora – a perspectiva da meditação, para dar uma pausa à mente cansada, um tempo para relaxar e ser livre.
A ocupação mais comum das pessoas enquanto meditam é tentar ficar quieto, no corpo e na mente. Para algumas pessoas é perceber a respiração, ou simplesmente permanecer atentos às sensações. Para outros, é estar atento a qualquer memória ou pensamento que possa vir à mente e nada mais, a não ser perceber o que acontece e se manifesta. Utilizando estes métodos é fácil trazer atitudes e estratégias de meditação artificial. Isso não faz parte do plano, mas acontece quase involuntariamente a partir de hábitos passados. Existe todo um espectro: por um lado, concentrar-se de uma forma excessivamente estressante e, por outro lado, afrouxar tanto a pessoa acaba adormecendo. Todo esse empenho não tem nada a ver com estar no seu melhor, natural e livre. O estado de meditação foi sequestrado.
Para retomar nossa jornada meditativa, precisamos de três qualidades práticas de não-fazer. Primeiro a qualidade é a naturalidade; sente-se à vontade, posicione a atenção à vontade, encerre a prática ainda à vontade e depois continue a meditação novamente à vontade. Desta forma, evitamos nos cansar de manter a postura corporal e de manter um estado artificial de paz.
O segundo é manter o frescor, começando e recomeçando do início, de novo e de novo. Em vez de manter um estado mental favorito por muito tempo, solte-o e comece de novo. Isto é muito diferente de construir um estado de meditação, um espaço pessoal íntimo, aconchegante e sem perturbações. O caminho certo é abrir mão da tentativa de controlar a paz e a quietude, e em vez disso deixar a experiência aberta para permitir que aconteça o que quer que aconteça. Treinando desta maneira, começando sempre de novo, nos familiarizamos mais e mais com a abertura e a inocência, em vez de seguir uma estratégia que crie paz e tranquilidade.
A terceira e mais eficaz maneira de ser você mesmo é treinar para estar em estado de prontidão, alerta, porém relaxado. Em vez de estar ocupado com o ato de meditar, treine de novo e de novo em abandonar os impulsos, liberando o ato de fazer no momento em que se inicia. Em outras palavras, permaneça desocupado, desempregado na meditação.
Com estas três qualidades de naturalidade, frescor e prontidão, a meditação se torna um treinamento em ser livre. A meditação é agora uma declaração de liberdade e é de dentro dessa liberdade que o melhor que podemos ser tem espaço para se manifestar. Uma flor que desabrocha revela suas cores, sua fragrância e sua doçura para que todos possam desfrutar. Da mesma forma, nossa bondade, inteligência e criatividade naturais podem agora ser desfrutadas, por nós mesmos e pelos outros, cada vez mais. É assim que a meditação nos permite ser o melhor que podemos ser.
Para garantir que o efeito de nosso treinamento meditativo se multiplique um milhão de vezes, sempre conclua a sessão com um desejo nobre: que este treinamento em não-fazer traga benefícios a inúmeros seres sencientes, acalmando suas mentes para que sejam naturais e livres.