Introdução ao Bodhi Training

 

Pouco antes de Buda deixar este mundo, lhe perguntaram: “Quando no futuro o Darma for explicado geração após geração, poderá haver mudanças; como então se poderá ter certeza de que o que está sendo ensinado está de acordo com seus ensinamentos”? Buda sentou-se por um tempo até que todos ficaram em silêncio e então começou a falar. “Quando uma explicação de um ensinamento contiver estas quatro realidades, então estará de acordo com meus ensinamentos”. E então explicou quais são essas quatro realidades.

 

A primeira é que nenhuma coisa composta é permanente. A segunda é que tudo que é associado a emoções autocentradas é doloroso. A terceira é que tudo o que experienciamos, todo conteúdo experienciado, é shunyata, o que significa que está além de suposições, opiniões e idéias preconcebidas. E a última é que o nirvana é paz. Aqui o nirvana não significa que ter ido para um estado mental autocentrado, mas que significa ter superado as opiniões autocentradas e as visões errôneas. Em outras palavras; a realização é a paz última. Estes quatro princípios contêm a essência dos ensinamentos do Buda.

 

Tenho ouvido muitas explicações sobre essas quatro sentenças de vários mestres ao longo dos anos, especialmente de Chokyi Nyima Rinpoche, e também li sobre elas. São verdades profundas e eu não posso afirmar ser capaz de abordar toda sua profundidade adequadamente. Mas, da melhor maneira que fui capaz, tentei incorporá-las em um sistema chamado Bodhi Training, que inclui o caminho para os humanos, o caminho para os deuses, o caminho para pessoas com mentalidade hinayana e o caminho para pessoas com atitude mahayana exterior e interior. A metodologia de fazer perguntas para investigação vem de meu professor, Tulku Urgyen.

 

Estou muito satisfeito com os resultados que os participantes apresentaram até agora. A maneira como são capazes de deixar de lado a preocupação que caracteriza a vida humana comum, preocupações com o que é transitório e superficial. Eles se tornaram mais capazes de repousar em si mesmos e, ao mesmo tempo, de abrir espaço para o coração aberto, para que a humanidade e a bondade se manifestem. A bondade, o amor e o senso de responsabilidade por algo maior do que por si mesmos se desenvolvem, à medida em que o autocentramento diminui. Assim nos tornamos pessoas autênticas, confiáveis e capazes de servir de guia para os outros, para nossa família e para nossos amigos. Isto não acontece apenas quando se acredita em um conjunto de idéias, que uma é melhor que outras, mas brilha através das palavras, das atitudes e da expressão do rosto, como uma consequência automática. Isto é o que eu chamo de caminho para os seres humanos.

 

Quando essa bondade ganha ainda mais espaço no momento presente, cedendo o território pessoal a partir de dentro e abrindo-se ainda mais, o amor, senso de responsabilidade, compreensão e compaixão se expandem. E se tornam muito, muito maiores à medida que você trabalha para remover os limites assim que se formam em sua mente. Essa é a chave para o amor, compaixão, alegria e imparcialidade ilimitados, e esse é exatamente o caminho essencial para os deuses. Descobrimos que o momento presente contém algo divino que está à nossa disposição a qualquer momento.

 

Podemos trabalhar com esta descoberta de uma maneira muito prática, para que um modo de ser amoroso e de mente aberta seja mais expansivo e aconteça com mais frequência em nossa vida diária. Nós também começamos a descobrir que aquilo que sente amor e discernimento, o sujeito, desaparece toda vez que procuramos por ele. A pessoa – o eu – só está aparentemente presente, como uma impressão habitual. Todos nós podemos descobrir isso se o procurarmos muitas vezes ao longo de um dia.

 

Esta impossibilidade de encontrar uma identidade pessoal além da consciência é a própria essência do caminho fundamental do Buda, porque o ferrão que se encontra em cada emoção egocêntrica é extraído de novo e de novo e acaba desaparecendo sem deixar rastro. Em outras palavras, começamos a descobrir como ser uma atenção sem centro, sem dono, sem ego, que é gentil e amorosa ao mesmo tempo.

 

Nesse momento estamos prontos para seguir para o caminho mais amplo do Buda, o mahayana. Sem o insight sobre a atenção sem dono, pode parecer pesado demais e instransponível assumir a responsabilidade sobre muitas pessoas, animais e seres sencientes. É muito melhor ter a fundação bem estabelecida primeiro.

 

O mahayana, o caminho mais amplo do Buda, se baseia na impossibilidade de encontrar um ego, na descoberta direta de que não existe uma identidade pessoal, baseia-se em uma consciência aberta. Em outras palavras, é você mesmo, não como um ego-self, mas como uma mente aberta e sem dono que é amoroso sem ser autocentrado.

 

Assim, podemos começar no verdadeiro caminho de um bodisatva e examinar as qualidades nas quais os outros podem confiar. Ser generoso, não apenas com coisas, mas consigo mesmo, com sua presença, com seu ser e com seus recursos, com sua compreensão, e próprio em comportamento e atitude. Disposto a enfrentar as dificuldades, especialmente os insights mais profundos.

 

Não é necessariamente fácil aceitar que o conteúdo da experiência na realidade não surgem nem desaparecem, mas são como uma imagem no espelho interior. Esta é a compreensão essencial da Escola Mente Apenas. Também estamos dispostos a continuar porque há inspiração e alegria. Nossa determinação não se baseia na crença em ilusões, mas no fato de que é possível resolver mal-entendidos e erros. Não apenas nesta mente, mas também na mente dos outros. Qualquer pessoa pode juntar a nós.

 

É possível continuar porque descobrimos uma maneira calma de ser, que não requer esforço, em que o treinamento é para trazer a atenção de volta toda vez que nos distraímos. Não que estejamos sentados e concentrados como um bloco rígido feito madeira, mas como um rio que flui continuamente onde pontos fixos de referência se afrouxam e se desfazem gradualmente. Essa abertura significa que podemos ver muito mais claramente e diferenciar bem o que é o quê. Isto é o que é chamado de insight transcendente, prajnaparamita. Atravessamos para o outro lado da dualidade e ainda existe uma vivacidade que percebe não apenas sua própria natureza, mas também qualquer coisa que ocorra. Essa é a essência do caminho mais amplo do Buda, o mahayana. Um ser humano que viaja por esse caminho mais amplo está agora realmente pronto para entrar nos métodos indestrutíveis de todos os Budas, que é chamado de caminho vajra, o vajrayana.

 

Estes são os temas que ensino durante o curso Bodhi Training, não porque eu seja alguém especial, mas porque todos os métodos e explicações que meus professores têm oferecido são muito eficazes e funcionam para qualquer pessoa que os utilize sinceramente. Eu realmente aprecio os insights do Darma e como eles afetam a mente dualista. O Darma ajuda a abrir uma mão que se fecha com muita força. É como se o chakra do coração sustentasse zelosamente sua própria identidade com base na ignorância e compreensões equivocadas, mas é possível abrir mais e mais. É assim para todas as pessoas, não apenas para algumas. Portanto, deveria ser um direito humano ter acesso a esse tipo de ensinamento sobre métodos libertadores para cultivar o insight.

 

Não há problema algum se você passar toda a sua vida no caminho humano. Se você passar para o caminho dos deuses, é ainda melhor. Se você continuar a compreender a impossibilidade de se encontrar o eu, é simplesmente excelente, porque então será possível se libertar de um modo confuso de ser. E se você seguir em frente pelo caminho mais amplo do Buda, os benefícios são infinitos. Você tem minha palavra. Os benefícios fluem incessantemente, não apenas para você mesmo, mas também para todos com quem você tem contato.