Carma significa ação, feitos e fazer, de forma intencional ou semi-inconsciente. Apenas uma fração do carma é expressa em palavras e comportamento visível. O restante se manifesta na mente como desejos, impulsos secretos, neuroses e emoções do dia a dia. Cada momento de intenção movimenta um cordão do carma que impulsionará os eventos que enfrentaremos em vidas posteriores ou nesta vida. Mesmo que a vida interior seja invisível para os outros, ela ainda assim tem consequências, como um fio de uma marionete que move suas pernas e boca. Neste momento, este corpo humano anda e fala controlado por cordões cármicos invisíveis aos nossos olhos. Esses cordões são formados pelos nossos pensamentos e emoções, que chamamos de hábitos, personalidade e o que eu gosto e não gosto.

A cada momento, o fluxo da existência é bombardeado com inúmeras impressões por meio dos sentidos, das lembranças e dos ecos dos pensamentos do presente. Essa torrente colorida e multifacetada que chamamos de nossa vida e de mundo é destino, sina ou intervenção divina? Seja qual for o nome que quisermos dar, ela é o resultado infinitamente detalhado de ações mentais, verbais e físicas criadas por momentos anteriores do mesmo fluxo mental. Essa é a lei do carma. Ele é pessoal? Sim, é. É criado pelo seu eu atual? Não, não é. É criado por outra pessoa? Absolutamente não! A mente atual sofre ou desfruta das consequências de ações criadas por momentos anteriores da mente. Não a mente de outra pessoa, mas a sua mente. Essa é a conspiração suprema, mas também a justiça perfeita. E mais: não está gravado em pedra; é uma situação que pode ser trabalhada. Você pode mudar seu carma, mudando hábitos e guiando seu próprio destino, no momento presente.

Quando testemunhamos ou lemos a respeito de crueldade, ouvimos falar de estupro ou exploração, tráfico, abuso econômico, social ou psicológico, o primeiro sentimento é de revolta, indignação e desejo de ajudar as vítimas. Muitas vezes nos esquecemos de que os agressores criam um tremendo carma negativo que os levará a se tornarem vítimas no futuro, não necessariamente nesta vida. Deveríamos adotar uma atitude de bondade para ajudá-los a parar. Cada pequeno ato de bondade ou crueldade é importante e tem consequências. A maneira de mudar o padrão cármico é prestar atenção e depois aceitar e rejeitar. Isso não significa permanecer em um estado passivo e neutro de observação, enquanto ferimos os outros plenamente atentos. É muito importante nos distanciarmos da tendência de ferir os outros ou a si mesmo com a firme decisão de ‘Não serei assim’. Caso contrário, o ciclo nunca termina, os cordões nunca são rompidos. Não pensem que a agressão sutil é aceitável, desde que nenhuma palavra seja dita e nenhuma pedra seja atirada. O ódio fere quem odeia, deixa um rastro que poderá ser facilmente seguido na próxima ocasião e na próxima vida.

É quase impossível identificar o que fizemos centenas de vidas atrás, mas os ecos são reproduzidos diariamente na forma de ‘gosto e não gosto’, preferências e inclinações, e é aqui que podemos intervir diretamente e fazer uma mudança. Amaciar o coração afina o véu do carma, abrindo espaço para sermos livres, abertos, gentis e sábios. Não seja condescendente, nem mesmo em tom de brincadeira, não provoque apontando os defeitos dos outros – isso não é engraçado. O bullying verbal mina a autoestima daqueles que confiam em você, corroendo essa confiança. E o que isso faz com você? Prejudica sua inteligência intuitiva e sua empatia, entorpece sua sensibilidade, e o deixa um passo mais próximo da insensibilidade. Esse caminho leva à falta de consciência situacional, tanto em relação aos outros quanto à cegueira interna em relação aos próprios erros; portanto, é melhor ser gentil.

Como seres conscientes em um corpo humano, não somos um espaço baldio e também não somos robôs biológicos. Somos espíritos encarnados. Faz parte de nosso fluxo de consciência lançar bolas em nossa dimensão de vida, incessantemente. Quando a bola bate na parede, ouve-se o famoso som do impacto e, em seguida, a borracha cede, comprime e expande, permitindo que o salto mágico a envie para o espaço, seguindo exatamente as leis da física. Não tem erro. É divertido. Toda criança sabe disso. O jogo é pegá-la enquanto ela voa em direção a você – a pessoa que a lançou.

Há duas maneiras de lidar com o carma que já foi criado. Uma é lançar mais bolas de bondade e presença consciente. A outra é utilizar meios hábeis para pegar as bolas lançadas no passado, lidar com as dores e as alegrias que experimentamos todos os dias, todas as variedades de emoções e todos os tipos de pessoas ao nosso redor, com diferentes tipos de humor, dilemas e obrigações. Tudo o que acontece pode ser usado como uma forma de afrouxar os nós do eu. Uma maneira de fazer isso é saborear cada momento, apreciando sua singularidade, o que trará mais contentamento e riqueza. Outra é dar espaço para cada dor e cada prazer; isso traz mais equilíbrio e estabilidade. Outra ainda é pensar que todas essas coisas são ilusões mágicas; isso o deixa menos frustrado e mais tranquilo. E você também pode tomar as dores para si, desejando que os outros sejam livres, o que gera mais coragem e nobreza.

Geralmente, as pessoas pensam que a palavra carma significa apenas o que acontece comigo, mas não minhas ações atuais. Mas para termos domínio sobre o carma, precisamos mudar o que fazemos, não o que acontece. Portanto, se quiser fazer um favor a si mesmo, pare de puxar os fios do carma que causam a dor. Não tire a vida de nenhuma criatura, por menor que seja. Todos querem viver, portanto, permita que vivam. Salve vidas, liberte-as. Especialmente, ajude as mentes a se libertarem. Não puxe as cordas que causam dor e sofrimento por meio de abuso ou manipulação. Não invista seus fundos de pensão em empresas que fabricam bombas ou roubam dos outros.

Que cada bola que lançarmos seja de bondade e compaixão ilimitadas, e que cada ação seja nobre e espontânea, para pacificar e enriquecer, magnetizar e subjugar, garantindo paz e liberdade para todos.

Tradução livre de Jeanne Pilli do original:
https://levekunst.com/the-invisible-strings-of-karma/

Imagem: Fun in Galway by Barnacles Hostels. Photo of ball player by Moise Theodor, Romania.